Fernando Rodrigues
No sábado (23/05), o Cinema Comentado Cineclube apresenta SALÒ ou OS 120 DIAS DE SODOMA (1975), discutida e premiada obra do consagrado diretor italiano Pier Paolo Pasolini. No filme, oito moças e oito rapazes são raptados a mando de quatro representantes da elite fascista: um bispo, um duque, um político e um juiz. Levados para um castelo, os jovens são submetidos a todo tipo de violência física, psicológica e sexual durante longos 120 dias, para deleite e satisfação de seus raptores.
Considerado um dos filmes mais polêmicos da história do cinema e com cenas fortes e desagradáveis, SALÒ ou OS 120 DIAS DE SODOMA é odiado por muitos (que o enxergam apenas como um filme feito para chocar e causar náuseas) e amado por outros – que o veem como uma das mais lúcidas leituras sobre os males do poder e da “coisificação” do ser humano numa sociedade capitalista e opressora.
O cineasta Pier Paolo Pasolini não pôde assistir à estréia oficial do filme. Foi assassinado vinte dias antes, em 2 de novembro de 1975. O inquérito policial instaurado à época indicou como assassino um jovem de 17 anos, Pino Pelosi, garoto de programa que assumiu a autoria do crime. Pasolini, homossexual assumido, católico e marxista, há muito incomodava as elites italianas – sobretudo a igreja e o governo.
Hoje em dia, a versão mais aceita para a morte de Pasolini extrapola à que envolve um mero desentendimento com um menor de idade contratado pelo cineasta para um programa sexual. Investigações e especulações que se desenvolveram nas duas décadas posteriores ao crime indicam um plano maior, possivelmente arquitetado pelas “forças dominantes” que se sentiam ultrajadas pelo comportamento e ameaçadas com o posicionamento político do cineasta. Para completar o mistério, trinta anos depois do crime, Pino Pelosi deu outra versão para o ocorrido, dizendo que apenas testemunhou o assassinato de Pasolini – que foi brutalmente espancado por três homens desconhecidos.
A realização de SALÒ ou OS 120 DIAS DE SODOMA teria sido a gota d’água para que a “cabeça” de Pasolini fosse colocada a prêmio. Numa livre adaptação da obra do Marquês de Sade, o cineasta italiano transpôs para os últimos dias da ditadura fascista na Itália, mais especificamente para o ano de 1944, uma história de perversão, maldade e escatologia – expressamente não recomendada para pessoas sensíveis e menores de 18 anos.
Para Thiago Costa, em crítica publicada no “Jornal do Brasil” em 05 de maio de 2015, “SALÒ é um registro cruel, na verdade, mais que isso, é um testemunho em imagens do que pode alcançar um tipo de racionalidade quando encontra prazer no sadomasoquismo que somente pode ser praticado quando se tem poder absoluto. Tudo que é perpetrado em SALÒ é obra da razão, de uma razão perversa, e não de uma irracionalidade devassa. Pasolini critica os desvios da razão, sua retórica vazia e abjeta, seus atos inconsequentes capazes de transformar o desumano em atrativo artístico”.
Uma coisa é certa: SALÒ ou OS 120 DIAS DE SODOMA foi ou será, para muito(a)s, uma das experiências mais inesquecíveis e marcantes no tocante à sétima arte. Classificação etária do programa: 18 Anos. Duração: 117 min.
A exibição dos filmes do Cinema Comentado Cineclube acontece aos sábados, na sala Geraldo Freire, a partir das 19h. Vale lembrar que a entrada é gratuita e aberta para toda a comunidade interessada em cinema e debates sobre a sétima arte.
PRÓXIMAS ATRAÇÕES 30/05 – Curta Circuito: “A Noite do Espantalho” (1974), dir: Sérgio Ricardo.
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