No sábado (20/06), o Cinema Comentado Cineclube apresenta O INCRÍVEL EXÉRCITO DE BRANCALEONE (1965), de Mario Monicelli. No ano 1000 d.C., um bravo cavaleiro parte da França, para tornar posse de suas terras. No caminho, ele é assaltado e assassinado por um bando fora-da-lei que decide se apropriar do terreno. Com isso, será preciso que alguém finja ser o cavaleiro e o escolhido é o atrapalhado Brancaleone. Começa aí uma incrível aventura, na qual Brancaleone e seus homens enfrentam os mais diversos perigos: a peste negra, os sarracenos, os bizantinos, bruxas e bárbaros. O resultado é um dos filmes mais divertidos e criativos do cinema. “Branca, Branca, Branca, Leone, Leone, Leone” é o grito de guerra dos comparsas que vão tomar posse do feudo de Aurocastro.
O filme, produzido num momento em que a comédia italiana atingiu seu ápice, não se configura como simples entretenimento de evasão ou catarse. O objetivo é a sátira política, a contestação ideológica. Em entrevista, o cineasta revela que a história frustrada da “armata de Brancaleone” contém aspectos de sua própria vida.
A crítica é feita a líderes que investem tanto numa causa e têm suas investidas frustradas. Brancaleone, espécie de um Dom Quixote mal vestido, é um desses líderes atrapalhados, cujo exército não consegue atingir seu objetivo.
A equipe de roteiristas do filme não teve o objetivo de passar uma visão fiel da Idade Média, mas referir-se indiretamente a momentos políticos e situações difíceis da história italiana – especialmente o governo fascista de Mussolini. Os heróis da Idade Média, consagrados em outras produções, são desmistificados por meio da leitura cômica que a produção apresenta. Ao contrário do que normalmente se vê em obras sobre temas medievais, o cineasta italiano transformou heróis, duelos de lança, cortes luxuosas e damas em fome, pobres, ignorantes, ferocidade, miséria, chuva e frio.
Entre o lírico, o drama e a ironia, Monicelli conquistou um estilo próprio. O tom irônico associado a situações dramáticas marca a linguagem dos seus filmes. A análise de outros títulos do diretor permite concluir que a dificuldade da luta pela sobrevivência, apesar de muitas vezes levar ao riso, consegue despertar a consciência crítica dos espectadores. “É um riso que ameniza a realidade do drama. Ele mostra pessoas de classes inferiores, mas imprime às cenas uma comicidade irônica, sarcástica”, afirma o pesquisador e professor João André Brito Garboggini – especialista na obra de Monicelli.
Carregado com um sórdido humor, O INCRÍVEL EXÉRCITO DE BRANCALEONE escracha os ideais nobres do heroísmo. Ridicularizando defeitos e vícios medievais, Mario Monicelli não perdoa a decadência das relações sociais, o poder da Igreja Católica e o conflito com os muçulmanos (ou sarracenos, como se dizia na época). Uma obra-prima para rir e refletir sempre, ideal para se “lavar a alma”. Classificação etária do programa: Livre. Duração: 104 min.
A exibição dos filmes do Cinema Comentado Cineclube acontece aos sábados, na sala Geraldo Freire, a partir das 19h. Vale lembrar que a entrada é gratuita e aberta para toda a comunidade interessada em cinema e debates sobre a sétima arte.
PRÓXIMAS ATRAÇÕES 27/06 – Curta Circuito: “A Batalha do Passinho” (2013) e “Cante um Funk para um Filme” (2007), dir: Emílio Domingos.
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