A história do Cinema é marcada por nomes e acontecimentos que se destacam e ficam nas lembranças, memórias dos espectadores.
Certa vez uma amiga com quem dividia um AP em Porto Alegre (RS) chegou em casa e disse: “vi um filme agora à tarde e não tenho certeza se entendi direito. Veja e depois a gente conversa, quero saber a sua opinião”.
Fui ver o tal filme no velho cine Marabá, que certamente não existe mais, bem no centro da cidade que, aliás, fica ao lado. Era “Week-end à francesa” (1967), direção de Jean-Luc Godard (1930-2022), que víamos no Brasil com um atraso de quase 10 anos.
A descoberta iria refrescar nossos corações e mentes naqueles tempos difíceis de Ditadura Civil-Militar. Nunca mais abandonaríamos Godard, a quem chamávamos de vanguarda permanente ou, um condenado à maldição das vanguardas. Naqueles tempos, Godard nos fez acreditar que era preciso contestar sempre.
O cineasta, revelado em 1960, com “Acossado”, permaneceria em constante ebulição criativa até o fim. Godard estabeleceu um vigor estilístico em seus filmes que permanece vivo e incômodo.
As imagens de Belmondo e Seberg na trama policialesca de “Acossado” são inesquecíveis e se associam aos movimentos de câmera, cortes secos, diálogos declamatórios do filme; existe aqui uma “beleza selvagem e vigorosa” que reflete muito bem os questionamentos e a vontade de mudança tão característicos da revolução cultural, social e política dos anos 1960.
É fundamental conhecer e rever estas produções que questionam os modelos tradicionais reforçando o caráter de evolução do Cinema. Godard partiu ao encontro dos colegas Truffaut, Resnais, Bertolucci, Bergman, Hitchcock, etc. e etc.
Ficam os filmes, obras vigorosas de encantamento, inovação e reflexão.
Elpídio Rocha e Márcia Braga, Jornalistas*
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